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Um mês após o início da reabertura, Barcelona começa a fase 2

Escolas infantil e grandes centros comerciais começam a funcionar hoje seguindo o protocolo de segurança para Covid-19

A Espanha adotou um dos confinamentos mais restritos com a chegada do Covid-19 e, nas últimas semanas, vem relaxando a conta-gotas as restrições impostas em 15 de março, enquanto países vizinhos têm sido mais ousados em seus planos de reabertura. 

As dúvidas sobre como e quando é seguro flexibilizar a quarentena se impõem num momento em que sobem as temperaturas na Europa e, com elas, aumentam também as pressões pelo uso das praias e pela liberação de viagens domésticas e internacionais, um eixo importante da economia.

No território espanhol, a reabertura começou em 4 de maio e tem sido feita em quatro etapas: cada localidade avança para a fase seguinte a depender de sua capacidade de monitorar a doença e de oferecer atendimento hospitalar aos que se contagiam. 

A progressão na reabertura, que vai da fase 0 à 3, significa que, pouco a pouco, as cidades vão reabrindo o comércio (com capacidade limitada de clientes), retomando o serviço de bares e restaurantes (de início, apenas com mesas nas calçadas e, depois, com algumas poucas mesas na parte interna), permitindo o trânsito de pessoas entre cidades e reabrindo as praias para o uso recreativo.

Barcelona, por exemplo, passou para a fase 2 nesta segunda-feira 8. Com isso, reabre com limitações os grandes centros comerciais e escolas para crianças pequenas, amplia o limite de clientes em bares e restaurantes e, oficialmente, libera as praias para que as pessoas possam tomar sol deitadas na areia e banhos de mar (até então, a praia só podia ser usada para a prática de esportes).

Apesar de as cidades avançarem em suas reaberturas, há muitas dúvidas sobre as próximas semanas. O governo anunciou para 1º de julho a reabertura do país para viajantes internacionais, com o fim da necessidade da auto quarentena, mas há pressões para que a data seja adiantada pelo menos para os territórios espanhóis menos afetados pelo Covid-19 e que são muito dependentes do turismo.

Abertura para viajantes de fora também é avaliada para a partir de 1º de julho. Crédito: Danil Sorokin/Unsplash

Outros países têm tomado caminhos diferentes. De olho nos turistas, a Itália acabou com a necessidade da quarentena para os viajantes que chegam de países da área Schengen e da União Europeia em 3 de junho. A Grécia, outro destino popular do verão europeu, planeja reabrir suas fronteiras em 15 de junho, uma data cogitada por vários países do continente.

Abrir antes pode significar abocanhar uma maior parte dos europeus que estão dispostos a viajar ao exterior após o pico regional da pandemia. E isso não é pouco para quem está às voltas com uma profunda crise econômica. Em 2018, o turismo representou 12,3% do PIB espanhol e 12,7% das vagas de emprego no país.

A questão é como balancear a pressão pela retomada econômica com o controle da epidemia. “Por um lado, as consequências do confinamento geral a nível econômico e social são dramáticas. Mas uma volta muito rápida à ‘normalidade’ poderia gerar um aumento importante de casos, que poderia forçar as autoridades a decretarem um novo confinamento geral, cujas consequências econômicas seriam piores”, diz Andrea Burón, porta-voz da Sociedade Espanhola de Saúde Pública e Administração Sanitária. “Nesse sentido, é necessário equilibrar os dois aspectos, para que recuperemos a atividade laboral o mais rápido possível, da maneira mais segura e compatível em cada um dos setores. Esse é o objetivo principal de todas as medidas que agora estão sendo tomadas.”

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PRAIA, MAS COM SEGURANÇA

Outra grande dúvida em relação à reabertura paira sobre o uso adequado da praia em tempos de Covid-19. Todos já sabem que este não será um verão normal no Mediterrâneo, mas ninguém tem uma fórmula pronta para o que pode e o que não pode ser feito. 

Até o momento, a Espanha estabeleceu algumas diretrizes básicas que serão detalhadas e implementadas por cada localidade e que incluem o cálculo de uma lotação máxima para cada praia (considerando uma área de 4m2 por pessoa), a restrição a grupos de banhistas de no máximo 15 pessoas, a possibilidade de se impor um limite máximo de permanência na praia e a necessidade de desinfecção constante de duchas e cadeiras de uso coletivo.

As reações dos gestores locais têm sido variadas, e o turista vai se deparar com respostas diferentes: praias zonificadas com áreas para famílias, idosos e adultos sem crianças; praias que informarão pela internet, em tempo real, seu nível de lotação e limpeza; praias que recomendam uma permanência máxima de 4h; praias com menor oferta de cadeiras e guarda-sóis; praias com passarelas de entrada e saída demarcadas e necessidade de entrar na praia com sapatos; praias com zonas infantis e de esportes coletivos fechadas; e até praias monitoradas por drones.

Um relatório divulgado em maio pelo Conselho Superior de Investigações Científicas (um órgão público espanhol dedicado à pesquisa) estima os riscos de contágio pelo Covid-19 pelo uso da praia, de piscinas e rios. O informe sustenta que o principal risco nestas situações ainda é o contato próximo entre pessoas e que a contaminação pelo contato com a água em si “é muito pouco provável”, sobretudo em se tratando de piscinas tratadas e a água salgada do mar.

Sobre a areia da praia, continua o estudo, ainda que não existam estudos científicos específicos, “a ação conjunta do sal da água do mar, da radiação ultravioleta solar e da alta temperatura que a areia pode alcançar são favoráveis à inativação dos agentes patógenos”.

“O risco vem principalmente associado às aglomerações de pessoas em que o espaço entre elas seja tal que permita a transmissão de pessoa a pessoa”, explica Andrea Burón. “Ao ser um espaço aberto, exposto ao sol e altas temperaturas, o risco é menor. Mas é preciso prestar atenção aos estabelecimentos fechados e semi-fechados que formam parte da nossa cultura de praia. Além da transmissão por contato através de superfícies em banheiros, duchas e cadeiras.”

Garantir que não haja aglomerações nas praias já será, em si mesmo, um grande desafio. 

No domingo 7, a principal praia de Barcelona, a Barceloneta, estava cheia, antes mesmo de ser oficialmente liberada para os banhistas. Os grupos eram pequenos e, de forma geral, respeitavam a distância mínima entre toalhas. 

Ainda assim, amigos conversavam nas calçadas sem máscara, os bares e restaurantes estavam cheios e vendedores ambulantes ofereciam os tradicionais mojitos aos banhistas que estavam sentados na areia. Os autofalantes lembravam das proibições e a polícia circulava de carro, mas não havia qualquer medida para garantir o distanciamento adequado.

Johanna Nublat
Johanna Nublat é jornalista e está terminando um mestrado em política pública em Barcelona, onde vive há dois anos. Antes da Espanha, morou no Brasil, na China e na França.