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De volta aos bistrôs: em nova fase pós confinamento, França vai reabrir restaurantes, bares e cafés

Hoje é um dia feliz para os franceses. Os bares, restaurantes e cafés finalmente reabrirão suas portas após quase três meses fechados. Desde o dia 11 de maio, com o fim do confinamento na França, o comércio voltou a funcionar e as pessoas finalmente saíram as ruas. Mas faltava algo essencial para o povo francês e seu estilo de vida social: viver a cultura gastronômica, nos bistrôs, sentar-se em uma mesa na calçada (os famosos terrasses) para beber uma xícara de café e ler um livro ou desfrutar do sol com uma taça de rosé.  

Vimos nas últimas semanas que a vida voltou quase ao normal, não fosse uma série de restrições estabelecidas, como uso de máscara e lavagem das mãos com álcool gel para entrar nos comércios, por exemplo. Com os bares e restaurantes não seria diferente. Os estabelecimentos deverão se organizar para que as mesas tenham um metro de distância entre elas e não comporte grupos com mais de dez pessoas. O uso da máscara é obrigatório para circular no local (seja cliente ou membro da equipe), como para utilizar o banheiro ou ir ate o balcão do bar, por exemplo. Em regiões consideradas como “zona vermelha” do país, como Paris, onde o vírus ainda circula com mais frequência, as áreas internas dos estabelecimentos devem continuar fechadas, com serviço exclusivo do lado de fora – o que não é um problema atualmente, com o clima quente da primavera e a chegada do verão em breve. 

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Um dia antes da reabertura dos bares e restaurantes, era possível ver em cada esquina da cidade as equipes que trabalham nos locais com fitas métricas e sprays de tinta nas mãos para fazer as devidas marcações no chão estipulando a distância de segurança. Em tempos normais, essas mesas ficam quase coladas umas as outras. Isso ocorre porque, para ter o direito de utilizar o espaço publico, é preciso uma autorização da prefeitura, que estipula milimetricamente a área da calçada que poderá ser utilizada – e cobra por isso, além de monitorar com frequência se os limites estão sendo respeitados. Contudo, dentro do contexto atual, as autoridades liberaram gratuitamente áreas externas a mais para que os estabelecimentos possam acolher o máximo de clientes possível dentro da nova norma. Muitas ruas também estão se tornando exclusivas para pedestres – algo que já é frequente na Europa – para criar mais espaços livres. 

Estabelecimentos já iniciaram marcação de distância nos estabelecimentos. Crédito: Camille Brodard/Unsplash

Não sabemos até quando essas medidas vão durar. A vida urbana durante o verão europeu é completamente diferente de quando o frio chega e as pessoas se acumulam em espaços fechados e apertados. Também existe o fator humano nisso tudo: mesmo com mesas organizadas a um metro de distancia uma das outras, como é possível conter a socialização em um ambiente propício pra isso – e regado a vinho?  Ontem conversei com o dono de um bar enquanto ele colava na porta do local um lembrete sobre o uso das mascaras. Ele disse que transformou seu menu em versão digital, para ser acessado com um QR code, evitando que o cardápio circule entre muitas mãos diferentes. Mas mesmo tomando todas as precauções necessárias, ele acredita que em algum momento vai ser difícil controlar seus clientes: “ambiente de bar não é um local para ficar controlando o que os outros fazem, se usam máscara para ir ao banheiro ou não. Eu sirvo bebida, não sou policial”. As próximas semanas mostrarão os efeitos dessa nova fase do “desconfinamento” para a crise sanitária. Não fosse a ausência dos festivais de verão típicos desse período (todos cancelados), a vida social esta cada vez mais próxima do que era antes.

Carolina Melo
Jornalista e vive em Rennes, na França, desde 2016