Para enfrentar o déficit habitacional de maneira cada vez mais eficiente e sustentável, a Secretaria de Estado da Habitação do Governo de São Paulo realizou na última quinta-feira o workshop INOVAHAB: Métodos Construtivos Inovadores. Oito empresas apresentaram seus sistemas inovadores como forma de propor alternativas para um dos maiores desafios das cidades brasileiras, o acesso à moradia. Participaram do encontro Flávio Amary, secretário de Estado da Habitação, Reinaldo Iapequino, presidente da CDHU (Companhia Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), Angélica Djenane Philippe Corrêa, gerente nacional de Padrões e Empreendimentos Críticos da Caixa Econômica Federal e Filipe Pontual, diretor executivo da ABECIP (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). O evento teve parceria da Cidades 21, agência de comunicação focada em temas urbanos.
Na plateia, representantes de empresas como Gerdau, Cemig e Usiminas, além de arquitetos, urbanistas, acadêmicos e técnicos da secretaria e da CDHU lotaram o auditório localizado na sede da Secretaria, no centro de São Paulo. Mais de 180 pessoas se inscreveram para acompanhar o encontro. Em sua fala inicial, o secretário Flávio Amary destacou como objetivo do encontro a aproximação entre poder público e iniciativa privada para fomentar novas tecnologias nas políticas governamentais: “Buscamos propostas que consigam atrelar boa capacidade de produção, velocidade, custo acessível, qualidade e segurança para as construções”, afirmou.
A ordem das apresentações foi definida em sorteio e cada representante teve dez minutos para fazer sua exposição. Henrique Ramos, fundador da ISOBLOCO, foi o primeiro e explicou o modelo construtivo de sua startup, baseado em blocos de concreto celular. Combinados a vergalhões em aço e sistemas de encaixe eficientes, o produto consegue reduzir de 10% a 12% o custo de construções convencionais. O modelo de negócio, definido como uma fábrica móvel com plataforma digital integrada, também favorece a redução dos gastos: “A venda é toda online e a produção pode ser feita dentro de um caminhão, capaz de circular por vários canteiros de uma só vez ou mesmo ser franqueado”, disse.
A startup foi, inclusive, uma das selecionadas para integrar a rede da HOUSINGPACT, programa que fomenta iniciativas de impacto social por meio da habitação. “Queremos transformar o padrão da moradia de populações vulneráveis a partir da inovação e do empreendedorismo”, afirmou um de seus realizadores, Alexandre Magnus Jordão. Segundo ele, o objetivo é criar um portfólio de startups e de pequenas empresas por meio do apoio e de recursos vindos de uma rede colaborativa de corporações, que incluem nomes como ArcelorMittal, BASF, Duratex, InterCement, Tetra Pak, CBMM, Fundação Espaço Eco e HM Engenharia.
Outra empresa participante foi a BAZZE, que apresentou seu sistema construtivo baseado em perfis de PVC preenchidos com concreto. A estrutura modular, que dispensa gastos extras com revestimentos como reboco ou pintura, se destaca pela rapidez e flexibilidade da montagem: “O kit com todas as peças já vem pronto da fábrica, todas leves, de fácil manuseio e baseadas em sistemas de encaixe, o que permite uma capacidade produtiva de 500 casas por mês”, disse o arquiteto Tiago Ferrari.
Também apostando em uma tecnologia rápida e acessível, a construtora Módulo Sequência tornou-se referência em steel frame no país. A solução, que emprega perfis metálicos para a fixação de placas de revestimento, permite a construção de até mil casas populares por mês. Para o sócio diretor da empresa, Alexandre Mariutti, as estruturas modulares são ideais para atender as demandas da habitação social. “É entregue de fábrica praticamente pronta, a montagem da nossa casa modular é rápida e permite uma mão de obra local, reduzindo os custos com materiais e fornecedores”, afirmou.
A Tecverde também marcou presença no workshop com sua solução wood frame. De origem alemã, o sistema construtivo se baseia em uma metodologia industrial para o tratamento da madeira, garantindo assim sua durabilidade e precisão: “Do corte à pregagem do material, tudo é feito digitalmente e com tecnologia BIM. Assim, cerca de 85% da estrutura sai pronta da fábrica, reduzindo resíduos no canteiro de obras e acelerando o processo construtivo”, disse Edvaldo Correia, Head de Novos Negócios B2B da empresa. Segundo o especialista, uma casa pode ser montada em até 12 horas com o uso da tecnologia.
Outra empresa a empregar madeira em suas construções é a AMATA, especializada em madeiras engenheiradas. Segundo Ana Belizário, gerente comercial e de projetos, o processo industrializado das peças dinamiza as opções do mercado: “com uma tecnologia que permite conectar diferentes peças da madeira, podemos usar árvores mais jovens, que não são necessariamente robustas, e opções mais baratas como o pinus”, explicou. A profissional ainda comenta o impacto positivo da matéria-prima, já que a madeira é capaz de estocar CO2 e reduzir a pegada de carbono do setor construtivo.
A importância de utilizar materiais sustentáveis foi pontuada também pela EDB, que desenvolve um sistema construtivo a base do óleo vegetal para produzir poliuretano. “É um material verdadeiramente verde”, afirma o diretor executivo Ricardo Sousa. Além de ser uma fonte renovável, com pouca conversão energética e baixo custo, a solução ainda promete uma redução de até 35% nos gastos em fundações devido à sua leveza.
Concluindo o ciclo de apresentações, Norival Fischer, da Fischer, detalhou o sistema construtivo de placas pré-fabricadas da empresa. Com 8 mil unidades já construídas, as casas modulares funcionam, segundo o profissional, como um verdadeiro lego: “Qualquer pessoa pode montar uma casa Fischer, que vem inclusive com um manual de instruções”, disse. A tecnologia, que já vem equipada com sistemas hidráulico e elétrico integrados ao projeto, garantem a conclusão de uma casa de até 41m² em apenas 4 dias.
Os representantes foram inquiridos pelo secretário Flávio Amary sobre custos, prazos e manutenção de seus produtos. O objetivo é que o encontro seja um primeiro passo para a criação de um modelo em que esses sistemas poderão ser usados na produção habitacional do estado de São Paulo.