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Mais mulheres no comando: exemplos e benefícios

Reprodução Wocintechchat/Unsplash

Os ganhos que o olhar feminino pode trazer às grandes decisões têm se mostrado surpreendentes até para quem, como eu, sempre defendeu que mais mulheres ocupassem cargos de liderança.

O estudo “Sob pressão: a liderança das mulheres durante a crise da Covid-19“, do economista Raphael Bruce, do Insper, analisou o combate à pandemia em cidades comandadas por mulheres em comparação àquelas governadas por homens. O primeiro grupo teve, em média, 25,5 mortes por 100 mil habitantes a menos do que o segundo, o equivalente a uma diferença de 43,7% na mortalidade. E mais: segundo os pesquisadores, se todos os municípios brasileiros tivessem prefeitas, seria possível que o País registrasse uma redução de 15% no total de mortes.

As habilidades femininas, sobretudo em momentos decisivos, têm contribuído para ampliar a presença delas nos conselhos das grandes companhias de capital aberto. Os 6,9% que as mulheres representavam em 2016, passaram a 16,10% neste ano, aponta levantamento da consultoria Comdinheiro realizado para o jornal Valor Econômico. 

No grupo AMATA + Urbem, , buscamos ampliar a diversidade do time e dar mais espaço para a contribuição feminina em todos os níveis hierárquicos. Desde 2018, temos uma mulher como CEO, Ana Bastos, que diariamente nos permite comprovar os benefícios que o talento e a competência femininos têm a oferecer. Nosso conselho também é liderado pela brilhante Marise Barroso, que nos apoia e orienta em decisões complexas e estratégicas.

Em 2020, o percentual feminino em funções administrativas na AMATA e na Urbem foi de 44%, mas na área operacional, mesmo incentivando a participação de mais mulheres, as taxas ainda estão abaixo do desejado. Seguimos buscando soluções para equalizar essa questão, especialmente por que, como aponta um estudo da FIA Employee Experience (FEEx 2020), a liderança feminina permite que o quadro de colaboradores fique mais equilibrado entre homens e mulheres, em todos os graus de atuação. E mais: mulheres puxam mulheres para evoluírem na carreira. Quando elas decidem, a média é de 42% de cargos de liderança femininos dentro da empresa, enquanto que, sob eles, o número cai para apenas 12%.

Na média brasileira, as cadeiras de diretoria ocupadas por mulheres passaram de 6,5% em 2016 para 12,2% neste ano. O mais preocupante é que, em 81 empresas avaliadas, em 44% não há uma única representante feminina entre os diretores.

Karina Saade é a aposta da BlackRock para pressionar pela inclusão feminina entre as lideranças brasileiras. A maior gestora de ativos do mundo e uma das principais forças a favor dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) nomeou a executiva para ser sua representante em solo brasileiro. É a primeira vez que uma mulher ocupa o posto no país, embora outras filiais da BlackRock tenham executivas à frente.

A medida se mostra particularmente relevante frente à queda da participação feminina no mercado de trabalho em decorrência da pandemia. De acordo com o Relatório de Desigualdade Econômica de Gênero 2021, publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), levará mais 36 anos até que mulheres e homens alcancem uma participação equitativa. O Brasil ocupa a 93ª posição entre 153 países. Agir pela inclusão feminina nos postos de comando é urgente e necessário.

Artigo originalmente publicado no Linkedin de Ana Belizário

Ana Belizário
Ana Belizário é gestora de projetos da Amata, empresa brasileira que acredita que a força da floresta pode transformar a sociedade. Belizário é formada em arquitetura e mestre pela Universidade de São Paulo.