Mobilidade

Mundo pós-Covid deverá ter cooperação global e mudanças estruturais nas cidades

Atento às novas tendências, o blog Cidades 21 levantou as principais opiniões sobre os caminhos quando a pandemia terminar

A data para o fim do isolamento social, provocado pela pandemia de Coronavírus, é tão incerta quanto as mudanças que essa nova realidade imporá. Aliás, a probabilidade de haver uma nova dinâmica nas cidades é a única unanimidade entre especialistas de vários setores – cientistas, médicos, urbanistas, sociólogos. Para eles, o mundo nunca mais será o mesmo, da mesma forma como aconteceu após outras cinco pandemias que atingiram a humanidade. No entanto, embora haja muita especulação sobre o que será novo nas relações humanas e no modo como as pessoas se relacionam com o meio ambiente, ninguém ainda é capaz de afirmar o que será necessário para evitar situações similares.

Algumas ações, no entanto, já estão sendo adotadas em várias cidades com o objetivo de conter a ação da Covid-19 e podem ser um indicativo do que deve ser o “novo mundo”.

Higiene

Uma delas é a instalação de pias em áreas de grande circulação para a higienização das mãos, bem como a instalação de dispositivos com álcool em gel nos transportes públicos.

Um desses casos é em Kigali, Ruanda, que instalou estações portáteis para lavagem das mãos em pontos de ônibus, filas de táxi e estacionamentos de toda a cidade (https://youtu.be/Ws0Jf8P6vGc).

No Brasil, Belo Horizonte instalou as pias nas praças Rio Branco, próximo à rodoviária, e Estação – ao lado do Centro de Referência da Juventude –, no Centro da capital, na Praça do Peixe, na Lagoinha, região Noroeste. São Paulo também já anunciou a iniciativa na região central da cidade, como Praça da Sé e Largo São Bento, locais de grande aglomeração.

Crédito: Teste
Dispositivos são instalados para higienização das mãos em espaços públicos de Brasília. Crédito: Renato Araújo/Fotos Públicas

Limpeza do Transporte Público

Outra tendência é a mudança na dinâmica do transporte público, algo que já está acontecendo em diversos locais no mundo e indicam um caminho: o fortalecimento dos sistemas coletivos com protocolos de ocupação e limpeza.

Em Istambul, na Turquia, 5 milhões de pessoas utilizam o sistema de transporte coletivo. Dessa forma, a administração determinou uma equipe de limpeza para aumentar os protocolos de higienização nas estações. Um indicativo de que isso deve se tornar rotina em todo mundo é o fato de outros locais já terem adotado os mesmos protocolos, como Hong Kong (China), Washington (Estados Unidos), São Paulo e Rio de Janeiro (epicentros da pandemia no Brasil).

Em Minas Gerais, equipes higienizam as estações de transporte público coletivo. Crédito: Gil Leonardi/Fotos Públicas

Liderada pela Alemanha, a iniciativa Transformative Urban Mobility (TUMI) faz uma série de ajustes no uso do transporte público que foram implementados também pela Polônia, Suíça e China e preveem, entre outras coisas, a redução do contato com motoristas. Assim, os passageiros não podem entrar pela frente nem comprar bilhetes a bordo.

Em São Paulo, mesmo antes da pandemia, a Linha Amarela do Metrô já havia implementado uma ação para reduzir e distribuir a ocupação nos vagões do trem: telas que indicavam as alas com menor número de passageiros.

Alternativas ao transporte convencional

Alternativas aos transportes convencionais motorizados – sejam os públicos, compartilhados ou particulares – que já vinham sendo discutidas há décadas por conta do impacto negativo no meio ambiente, foram aceleradas pela pandemia.

A prefeita de Bogotá, na Colômbia, Claudia Lopez, pretende transformar 76 quilômetros de vias em ciclovias, abertas apenas para ciclistas e pedestres. A princípio, a iniciativa seria apenas aos domingos, mas, diante da necessidade de desafogar o transporte públicos, a chance de ficar aberta nos sete dias da semana é grande.

Ciclofaixa da Avenida Paulista: países já começam a ampliar seus espaços para transporte alternativo. Crédito: Roberto Parizotti/Fotos Públicas

Esse debate sobre os locais que as bicicletas podem ocupar nas cidades deve ganhar força pela possibilidade de as pessoas utilizarem um meio sustentável, sem contato físico e rápido para os deslocamentos pela cidade. Algumas cidades, como Nova York e Filadélfia (Estados Unidos) e também na China o crescimento dos bikers pode ser um teste para a infraestrutura cicloviária e uma adoção permanente desses espaços em maior escala.

Viagens aéreas

A redução de viagens de avião também deve ser algo que irá permanecer, exatamente porque ainda não se sabe por quanto tempo o mundo terá de intercalar períodos de isolamento total e parcial. No entanto, as companhias aéreas dizem ter aumentado a higienização, mas, mesmo antes da pandemia tinham sistemas de ar condicionado com filtros Hepa (high efficiency particulate air), que renovam o ar a cada 3 minutos e conseguem extrair 99% dos vírus existentes, incluindo o Covid-19.

Telemedicina

O grande risco de se procurar pronto-atendimento – a não ser por suspeita de infecção por Coronavírus – levou os sistemas de saúde público e privado a adotarem a tecnologia de telemedicina, que já vinha sendo apontada como tendência para o futuro.

Para especialistas, provavelmente, a pandemia irá acelerar o uso massificado da telemedicina, como já acontece no Brasil, por meio de contatos do Ministério da Saúde, plataformas online de atendimento disponibilizadas pelos convênios e médicos particulares, utilizando ferramentas digitais para o atendimento. O mesmo deve ocorrer com exames de menor complexidade, que podem ser coletados a domicílio, sem a necessidade de deslocamentos até laboratórios.

Cultura imersiva

A tendência é que, cada vez mais, sejam promovidas experiências imersivas e atividades digitais, como as lives de cantores e bandas disseminadas durante a primeira fase de isolamento e os tours virtuais promovidos por museus.

Segundo o estudo Hype Cycle, da consultoria internacional Gartner, as experiências imersivas são uma das três grandes tendências da tecnologia. Além da cultura, outras áreas podem seguir o mesmo caminho, como esportes, por exemplo.

Home Office

Outra tendência é o trabalho remoto. Algumas empresas já adotavam a medida uma ou duas vezes por semana, mas com a exigência do isolamento é possível que algumas funções passem a desempenhar o trabalho à distância, conectados por plataformas digitais. Aqueles que tiverem a necessidade de trabalhar presencialmente também terão o impacto de mudanças, com estações de trabalho mais distantes.

Para se ter uma ideia de como a tendência pode se tornar uma realidade, nas últimas semanas, as buscas por “trabalho remoto” e “home office” atingiram nível recorde no Google e no YouTube.

A tendência do “home office” é uma das promessas.

E-Learning

O teste de fogo para a educação à distância é agora. Até então, alguns cursos de curta duração, parte das horas da graduação e pós estavam nessa lista. Mas com a quarentena, as crianças e adolescentes entraram nesse nicho e as instituições de ensino, bem como as ferramentas e plataformas, estão sendo testadas. Tudo para evitar que as escolas fiquem lotadas novamente e provoquem a disseminação do vírus. Ainda há várias lacunas, pais, professores e educadores tentam encontrar a melhor fórmula. Mas é indiscutível, para os especialistas, que o recurso e a expansão do sistema irão acelerar. A Trend Watching aposta que devam surgir novas plataformas ou serviços que conectam mentores e professores a pessoas que querem aprender sobre diferentes assuntos.


Juliana Gattone
Jornalista, com MBA em Gestão de Pessoas, tem passagem pelos principais setores - poder público, privado e imprensa. Atua há 24 anos escrevendo sobre política e economia, além de desenvolver projetos de comunicação e conteúdo estratégico para diversas áreas (lazer, saúde, consumo, construção civil e cultura). Integrou as redações do Diário do Grande ABC e do Jornal da Tarde (Grupo Estado), conduziu a Secretaria de Comunicação de Santo André e gerenciou equipes nas maiores agências de Relações Públicas, como Máquina Cohn&Wolfe, CDN e Inner Voice Comunicação Essencial.