Sustentabilidade

Níveis altos de poluição podem agravar e facilitar contaminação por Covid-19

Arthur Lysyuk/Unsplash

Estudos europeu e norte-americano apontaram relação em cidades com qualidade ruim do ar

Pessoas com longa exposição a níveis não saudáveis ​​de poluição do ar estão agora em maior risco de morrer devido ao COVID-19. É o que mostra dois estudos recentes, um na Europa e outro nos Estados Unidos. As análises dos levantamentos apontam para uma possível relação entre a poluição e o agravamento de sintomas provocados pelo coronavírus.

Segundo o levantamento científico, publicado na revista Science of the Total Environment, 78% das mortes estão em regiões da Alemanha, Espanha, França e Itália com a maior concentração de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente nocivo para os sistemas respiratórios humanos. Além disso, algumas dessas cidades também sofrem com a pressão do ar descendente, o que pode impedir a dispersão de poluentes no ar.

Já o estudo da Universidade de Harvard, que analisou 3.080 municípios dos EUA, descobriu que se houvesse redução da quantidade média de material particulado no ar em Manhattan, por exemplo, em apenas um micrograma nos últimos 20 anos, poderia ter evitado 248 mortes.

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Pessoas expostas a altos níveis de poluição podem ter agravamento do Covid-19. Crédito: Macau Photo Agency/Unsplash

O médico Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica a relação entre poluição e as doenças do trato respiratório nesta época mais fria do ano. Segundo ele, quando a temperatura cai, o movimento dos cílios pulmonares diminui, o mesmo ocorre com a saída de secreção, já que são esses movimentos os responsáveis por expelir qualquer tipo de impureza. Com a redução dessa limpeza, é mais fácil que agentes externos cheguem e se instalem, caso das partículas de poluição. Sem a higienização do pulmão, essas substâncias nocivas irritam a área e criam o ambiente perfeito para implantação de vírus e bactérias, como a Covid-19.  “Sabe aquela história que os idosos sempre falam, de evitar pegar friagem? É a pura verdade”, afirma o especialista.

No entanto, quando se fala em poluição, o Brasil não está nem perto de chegar às primeiras colocações de países com o ar mais impuro do mundo. No último ranking publicado, em 2019, aparecia em 44º lugar, sendo São Paulo a cidade mais poluída do Brasil, posicionada no 74º.  É o que aponta a pesquisa da IQ AirVisual, grupo suíço que coleta dados sobre a qualidade do ar ao redor do mundo, em parceria com o Greenpeace.

No levantamento, entre as 30 cidades mais poluídas do mundo, 22 estão na Índia e as outras oito restantes estão cidades no Paquistão, Bangladesh e China. Considerando os países ao invés das cidades, Bangladesh lidera o ranking de pior qualidade do ar, seguido por Paquistão e Índia.

Mesmo assim, os números daqui não são animadores. Estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostra um aumento expressivo nas internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) neste ano, após a chegada da pandemia, em comparação com a média dos últimos dez anos. Na contagem da Fiocruz, até 4 de abril deste ano, o Brasil teve 33,5 mil internações por SRAG, muito acima da média desde 2010, de 3,9 mil casos. Mesmo em 2016, quando houve um surto de H1N1, foram registrados 10,4 mil casos no mesmo período do ano. Até o dia 8 de maio, 141.088 casos e 9.637 mortes foram registradas no Brasil, que já ocupa o ranking dos dez países com mais casos e mortes no mundo.

Juliana Gattone
Jornalista, com MBA em Gestão de Pessoas, tem passagem pelos principais setores - poder público, privado e imprensa. Atua há 24 anos escrevendo sobre política e economia, além de desenvolver projetos de comunicação e conteúdo estratégico para diversas áreas (lazer, saúde, consumo, construção civil e cultura). Integrou as redações do Diário do Grande ABC e do Jornal da Tarde (Grupo Estado), conduziu a Secretaria de Comunicação de Santo André e gerenciou equipes nas maiores agências de Relações Públicas, como Máquina Cohn&Wolfe, CDN e Inner Voice Comunicação Essencial.