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Nosso projeto para a Sé e os novos usos para o centro de São Paulo

Quando começo a pensar em um projeto, penso de dentro para fora, do interior para o exterior. Busco planejar detalhadamente os usos para só então me deter nos contornos estéticos. O resultado acaba sendo um projeto que responde muito melhor às reais necessidades do cliente, que considera o que é verdadeiramente prioritário, que cria ambientes funcionais capazes de transmitir bem estar e ao mesmo tempo preservar o sentido e o propósito iniciais daquela concepção.

Transpondo essa lógica para a escala urbana, os bairros centrais deveriam ser o ponto de partida para produzirmos as cidades que queremos, servindo para irradiar funcionalidades e consolidar a qualidade de vida como um valor fundamental. O desafio é ainda maior se considerarmos que nesse caso não é possível partir de uma folha em branco: a cidade está dada, há um ambiente construído ao longo de vários séculos e muitas demandas se acumulando à espera de soluções.

Alguns anos atrás, nós desenvolvemos um projeto de requalificação para a Praça da Sé, em São Paulo, mais um entre tantos espaços públicos de enorme importância histórica cujo potencial é desperdiçado pela falta de uma visão integrada e da atribuição de funcionalidades. Nosso esforço foi o de incentivar o uso constante da praça tanto durante o dia como à noite, identificando entre as fachadas pontos comerciais que pudessem contribuir para resgatar o movimento pelas ruas do entorno. Em outra frente, fizemos um levantamento de imóveis que poderiam ser transformados em residenciais bem como em hotéis, ampliando as possibilidades de atração de pessoas à rotina do centro. Sobre a praça, propusemos uma malha para atenuar a topografia e conferir unidade, acomodando tanto canteiros ajardinados como novos usos flexíveis, entre os quais pista de skate, playground, palco para shows, bancos e o que mais fizesse sentido a cada momento. Não conseguimos avançar com a implantação, mas seguimos acompanhando com grande entusiasmo novos planos para o centro.

Em São Paulo, a prefeitura acaba de sancionar o programa Requalifica Centro, que estabelece remissão e isenção de impostos (IPTU, ITBI e taxas municipais) aos proprietários que realizarem retrofits de cerca de 3 mil imóveis antigos, incentivando seu uso residencial ou como centros corporativos e comerciais. Está previsto ainda abatimento de ISS nos serviços relacionados às reformas. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o programa Reviver Centro trilha caminho semelhante, convertendo prédios comerciais em residenciais ou de uso misto, combinado a um auxílio aluguel. A próxima etapa prevê benefícios fiscais e menor burocracia nas aprovações. São ótimos exemplos de que é possível conseguir muito se avançarmos pouco a pouco.  O futuro das cidades depende de rompermos com o pensamento tecnocrata do urbanismo e criar alternativas factíveis e imediatas para as regiões centrais, que busquem devolver à vida esses espaços tão estratégicos quanto subaproveitados.

Arthur Casas
Arquiteto fundador do Studio Arthur Casas.