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O papel dos investimentos sustentáveis na retomada econômica brasileira

O ano de 2020 começou com o “Relatório de Riscos Globais 2020” do Fórum Econômico Mundial afirmando que os 5 maiores riscos para governos e mercados estão relacionados às questões ambientais. Uma afirmação histórica.
O mercado financeiro já vinha dando sinais de que os aspectos sociais, ambientais e de governança estão ganhando relevância. O maior exemplo disto veio em 14 de janeiro de 2020, quando Larry Fink, CEO da BlackRock, fundo de investimentos gestor de mais de 7 trilhões de dólares, publicou uma carta aberta aos clientes salientando as evidências dos riscos climáticos e afirmando acreditar que a base mais forte para os portfólios de seus clientes no futuro é o investimento sustentável.

Os 5 maiores riscos globais são:

  • Eventos climáticos extremos, como enchentes e tempestades
  • Falhas nos combates às mudanças climáticas
  • Perda de biodiversidade e esgotamento de recursos
  • Desastres naturais, como terremotos e tsunamis
  • Desastres ambientais ​​causados pelo homem

As práticas ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança) no setor privado de forma geral sempre estiveram muito relacionadas à redução do risco empresarial. Temos ótimos exemplos de empresas que possuem outras motivações, mas existe um consenso de que a mitigação de riscos a médio e longo prazos aumenta a resiliência das empresas, tornando-as mais atraentes aos investidores. 

Mas este cenário está mudando. Um relatório recente publicado pela universidade de Oxford revela a correlação entre as práticas empresariais que consideram a performance social, ambiental e de governança das empresas e o desempenho macroeconômico de seus países nativos. Os pesquisadores analisaram as pontuações ESG de milhares de empresas em 19 economias desenvolvidas e 11 economias emergentes durante um período de 15 anos até 2017. O relatório mostra que o alto desempenho em ESG está alinhado com a melhoria no PIB per capita e a redução do desemprego. 

Investimentos em empresas que possuem bons indicadores ESG passa a ser um negócio cada vez mais seguro, rentável e atraente. Estudos do Global Sustainable Investment Alliance mostram que o volume de investimentos sustentáveis no mundo já atingiu US$ 31 trilhões. Este movimento pode ser observado também no Brasil. Em junho de 2020 Guilherme Benchimol, fundador e CEO da XP Investimentos, lançou dois produtos ESG e criou uma área de “sustainable wealth”, afirmando que “Empresa que não for ESG vai acabar”. No Brasil e no mundo inúmeros fundos orientados para investimentos que criam impacto positivo na sociedade e no meio ambiente estão se multiplicando e se fortalecendo. 

Porém, é preciso atentar para o desafio que as empresas e os investidores enfrentam na busca por quantificar impactos que idealmente são medidos de forma qualitativa. Faltam avanços relacionados aos sistemas de avaliação ESG, principalmente no que tange a mensuração de impacto indireto e a comparabilidade entre empresas. O desafio não é pequeno, são mais de 600 sistemas de indicadores ESG pelo mundo. Todos atuando na mesma direção, mas não necessariamente integrados e comparáveis. Em alguns casos, é possível encontrar uma empresa com alta pontuação em um sistema e pontuação mediana em outro. 

Os investimentos que consideram a performance social, ambiental e a governança das empresas possuem um papel crítico em qualquer retomada econômica. Principalmente em um cenário pós-pandemia, onde a retomada precisará considerar os riscos climáticos para evitar uma crise com proporções ainda maiores. O que os acontecimentos de 2020 reforçam é que empresas com boas performances ESG estão se tornando a maior (e melhor) aposta dos investidores. E que em um futuro próximo, questões sociais, ambientais e de governança deixarão de ser um diferencial para investimentos, para tornarem-se condicionantes. 

Referências:

https://www.greenbiz.com/article/companies-esg-scores-improve-countries-macroeconomic-growth-report-finds

https://einvestidor.estadao.com.br/coluna/fernanda-camargo/insustentavel-investir-fatores-ambientais/

https://www.blackrock.com/br/larry-fink-ceo-letter

Mariana Malufe Spignardi
Formada em Liderança para a Sustentabilidade, Harvard University; Gestão Responsável para a Sustentabilidade, Fundação Dom Cabral e especialista em Conforto Ambiental e Conservação de Energia, USP. É mestre pela Architectural Association School of Architecture, mestre pela USP e Urbanista pela PUC Campinas. É membro da Comissão Estadual de São Paulo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, do Conselho Gestor da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo e professora em diversas instituições de ensino. O reconhecimento de seu trabalho inclui o Prêmio Destaque da Odebrecht Realizações Imobiliárias, 2013; O Prêmio ADEMI RJ, 2014 - meio ambiente; A primeira certificação para bairros LEED ND - Leadership in Energy and Environmental Design Neighborhood Development na América Latina e a primeira certificação AQUA Bairros e Loteamentos do Rio de Janeiro.