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O que importa?

Maquete eletrônica do B32, localizado na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo

Sucesso depende de sorte, de parcerias, de pessoas dispostas a sonhar junto com você e sempre é muito efêmero, não é algo sólido, é bem mais instável que o fracasso. Eu sei porque vivi muito os dois, especialmente o fracasso, do qual tive uma boa dose, inúmeras batalhas perdidas, sem conta. Sucessos conto nos dedos das mãos, talvez uma única mão.

O fracasso é ruim, mas é bom: foca atenção, aguça os sentidos, te ensina. E sem dinheiro você nunca consegue fazer muita merda. Já o sucesso é bom mas é ruim, leva a displicência e você fica possibilitado a fazer muita bobagem ainda mais e principalmente por estimular enormemente nossa, sempre presente, arrogância, o que sempre leva à mais merda.

Como sucesso, contabilizo algumas realizações, das quais me orgulho muito, mas cabe esclarecer algo: ninguém realiza nada sozinho. Nada de relevante pode ser alcançado sem uma equipe competente e motivada. Assim, às vezes falo “eu fiz isso ou aquilo” mas o que realmente quero dizer é eu coordenei uma equipe que fez, eu motivei pessoas que fizeram, eu participei, nunca, jamais, foi alguma conquista minha, isolada. Tive colaboradores extremamente talentosos, ou talvez fossem “normais” que eu puxei, estimulei para serem excepcionais (pode-se dizer que exigir o impossível aos gritos é uma forma peculiar de gestão de pessoas). Enfim, consegui inspirar pessoas para realizar o que não consideravam possível, o que por si só, já é uma forma de sucesso. São essas pessoas que me permitem falar “Eu fiz” em alguns dos empreendimentos mais marcantes de São Paulo, senão do Brasil.

Fiz alguns dos melhores prédios de escritórios de São Paulo, e agora fiz o B32. Foi a última coisa que fiz e a primeira a ser lembrada, graças a Deus. Foi muito difícil, sofrido, e teve todos problemas imagináveis, mas, no final, depois de inacreditáveis 20 anos, quis o destino ser generoso comigo. Chegamos no mercado na hora exata, o prédio atingiu todos parâmetros que projetamos e se transformou no prédio de referência de escritórios em São Paulo.

Fiz o melhor hotel de São Paulo e apesar de eu ter quebrado no meio do caminho e outros terem terminado o projeto, este é um empreendimento que carrega minha marca.

Fiz o melhor ou pelo menos um dos melhores teatros de São Paulo, o Teatro B32. Até fiquei surpreso quando começaram a falar assim, … o melhor teatro…mas… “eu fiz” mesmo se um pouco surpreso.

Fiz, ou ainda estou fazendo, ainda vai demorar mais de 30 anos, o maior e o melhor projeto de urbanização do Brasil que apesar de, hoje, ser tocado por meu filho, que é quem realmente merece qualquer crédito sobre esse “sucesso”, teve sua conceituação inspirada por mim. A Urbita em Brasília, uma verdadeira cidade para pessoas.

Ainda estou fazendo, mas em poucos anos terei feito, podem contar, é uma promessa, o melhor parque urbano de São Paulo – o Parque Burle Marx. Um parque público administrado e mantido pela Fundação Aron Birmann.

Ainda tenho alguns projetos que não fiz, são sonhos futuros, que quero ainda realizar: quero explorar a construção de projetos de habitação acessível, no que acredito será um processo de muito aprendizado e resultado. Onde chegaremos Veremos.

Também estou explorando um complexo multiuso com alta qualidade urbana, num terreno que me persegue há mais de 25 anos e representa uma grande oportunidade no sentido do bom urbanismo aliado com natureza e espaço público.

Finalmente, explorando novos caminhos nas relações e os espaços público-privados, estou tentando viabilizar um equipamento público sem recursos públicos na transformação de uma espaço central e muito valorizado e, além desse, estou tentando viabilizar a realização de um museu, que foge ao sentido tradicional de incorporação imobiliária, um projeto fantástico, tanto do ponto de vista da arquitetura quanto da sua viabilidade como investimento e gestão. Se eu tiver sucesso nessas duas últimas empreitadas,…. aí sim, teria um sucesso inquestionável, acima de qualquer fracasso do passado.

Entre o feito e o por fazer, entre o passado e o futuro, os fracassos ainda superam, pelo menos em número, os sucessos, mas me senti muito bem realizando esses projetos, fiz com vontade e com prazer, fiz com paixão e vibrei cada momento de toda confusão que eles geraram. O stress era quase como um alimento para mim. Verdade que no meio do caminho, eu quebrei pelo menos uma vez e tropecei inúmeras outras tantas, mas, olhando para trás, acho que valeu a pena.

Aprendi muito porque também quis aprender, mantive o olhar no horizonte e a cabeça aberta, pensei grande mesmo sendo pequeno, mesmo quando me sentia completamente incapaz para os desafios à minha frente. Tive a ousadia de sonhar em fazer melhor, em questionar o estabelecido, e isso já foi metade do caminho. Podia ter feito diferente? Talvez pudesse ter tido mais cuidado mais do dinheiro? Certamente que podia, mas isso eu não soube fazer, me faltou competência. Os meus erros e meus acertos foram todos meus, e eu, tendo os feito, me senti feliz e isso, caros amigos, é o que realmente importa no escasso tempo que nos é concedido nesta nossa curta passagem por esta Terra.

Rafael Birmann
Presidente da Birmann/SA desde 1978. Presidente da Fundação Aron Birmann, entidade sem fins lucrativos comprometida com a melhoria urbana e que, desde 1995, administra e mantém o Parque Burle Marx em parceria com a prefeitura de São Paulo. Diretor na empresa Faria Lima Prime Proporties. Desenvolveu vários projetos de escritórios em São Paulo em Santiago (Chile) e Argentina que impactaram significativamente o mercado. Hoje está à frente do B32, um prédio de escritórios na Avenida Faria Lima, que discute conceitos sobre propriedades e seu contexto urbano, placemaking, propriedade e gestão de ativos, e da Urbitá, desenvolvimento urbano em Brasília. Na planejada capital do Brasil dos anos 50, é uma grande oportunidade para discutir o urbanismo com todos os seus desafios.