Restante do País apresenta a mesma tendência; para especialistas, pessoas em casa separam melhor o lixo
A pandemia de coronavírus trouxe ao menos uma boa notícia para São Paulo. Na primeira quinzena de abril, o aumento de recolhimento de material reciclado subiu 25% na comparação com o mesmo período de 2019, segundo dados Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana). Na outra ponta, a coleta de resíduos sólidos sofreu queda de 12% em decorrência do fechamento dos pequenos comércios durante a quarentena, prolongada até 1º de junho.
Nos primeiros 15 dias do mês passado entraram nas centrais de material reciclado, que continuam funcionando com a mínima intervenção humana na cidade e em outras capitais do país, 4 mil toneladas de recicláveis, contra 3,2 mil toneladas entre 1 e 15 de abril de 2019. O maior volume de lixo reciclável, segundo a Prefeitura, fez com que a capacidade das duas centrais mecanizadas de triagem da cidade passassem de 50% de índice de operação para 70%. Cada uma tem condições de processar 250 toneladas de resíduos por dia. Segundo associações do setor, o aumento na geração de material reciclável visto em São Paulo se repete em todo o País.
As explicações para a alta, segundo especialistas do setor, tem a ver com o fato de que as pessoas estão mais em casa e, por isso, tendem a separar melhor o lixo. Como muitas famílias também resolveram organizar melhor as residências nas primeiras semanas de isolamento social, isso acabou gerando mais lixo reciclável. Se a tendência de alta se mantiver, o que significa uma adesão maior da população à reciclagem, e a indústria e os órgãos públicos também fizerem a parte deles, São Paulo poderá deixar de exibir os resultados pífios de reciclagem de lixo que vem exibindo em anos anteriores.
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Segundo números de 2018 da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), das 76.907 toneladas de lixo reciclável coletadas na cidade, apenas 7% foi de fato reciclada. O ranking montado pela associação mostra que enquanto a capital tem a maior produção de lixo por pessoa do País ela está apenas em décimo lugar no percentual de material reciclado. “No médio e longo prazo, o Brasil precisa de fabricantes, distribuidores, comerciantes e importadores que assumam definitivamente suas responsabilidades, estabelecidas na lei de 2010. Por lei, eles precisam garantir o retorno dos 30% dos recicláveis para a cadeia de reciclagem, ou seja, custear os serviços de coleta de recicláveis e a remuneração justa pelo trabalho de classificação feito pelos catadores e as cooperativas e associações”, afirma Elisabeth Grimberg, coordenadora de Resíduos Sólidos do Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais).
Às prefeituras, segundo a especialista, caberá investir na estruturação de condições de trabalho dos 800 mil catadores avulsos e organizados, provendo espaços para a triagem com equipamentos adequados. “Está na hora, também, de as prefeituras implementarem a coleta separada da matéria orgânica e a compostagem de resíduos residenciais gerados diariamente, dado que essa é uma atribuição delas. Pelo menos 80% dos resíduos são passíveis de reaproveitamento e poderão incrementar enormemente a cadeia da geração de trabalho e renda e trazer inúmeros benefícios ambientais e para a saúde humana”, afirma Elisabeth.
Manuseio suspenso
A coleta seletiva não envolve apenas a questão de saúde pública, mas também um grande desafio socioambiental. Por decisão das autoridades públicas, como é o caso de São Paulo, o manuseio do material reciclável está proibido por parte dos catadores tanto cooperados quanto autônomos. O que não significa que alguns destes trabalhadores não estejam pelas ruas, coletando material para sobreviver.
A prefeitura de São Paulo anunciou uma assistência específica em dinheiro para os catadores durante os meses da pandemia. A Amlurb decidiu investir R$ 5,76 milhões para auxiliar na renda dos que trabalham com reciclagem. As 900 famílias de 25 cooperativas habilitadas no Programa Socioambiental de coleta seletiva vão receber R$ 1,2 mil por mês durante três meses. Os catadores autônomos terão direito a R$ 600 pagos pela Prefeitura e mais R$ 600 do governo federal. O trabalho das cooperativas está totalmente suspenso para proteção da saúde dos cooperados.