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Se essa vaga fosse nossa: coletivizando o estacionamento público

Imagine o seguinte experimento desolador: cortamos todas as árvores do Parque Ibirapuera, aterramos seus lagos, demolimos as obras de Niemeyer, mandamos pra longe todas as pessoas – dos turistas aos esportistas aos vendedores de água de coco; com a terra arrasada, cobrimos tudo de asfalto e dividimos o espaço em pequenas áreas de 5 x 2,2 metros; em cada um desses espaços, deixamos estocado uma tonelada de aço; repetimos o processo três vezes.

Chocante, não? Pois é o que fazemos com cerca de cinco milhões de metros quadrados do nosso espaço urbano, área das ruas de São Paulo, equivalente a três Parques Ibirapuera, que destinamos para o estacionamento público. Ao invés de um uso coletivo e verde, deixamos carros parados. Vale para a capital paulista, vale para todas as cidades brasileiras, que repetem a fórmula em sua medida.

Mostro isso no recém-lançado A Cidade Estacionada, um estudo sobre a gestão do meio-fio e o estacionamento rotativo pago (também conhecido com Zona Azul em São Paulo). As consequências desse mal-uso do espaço público são mais trânsito, poluição, riscos de acidentes e desigualdade, entre outros.

Para reverter esse quadro, as Prefeituras precisam estudar profundamente o estacionamento público local, mapeando quantas vagas estão disponíveis e quais os melhores usos. Caso seja necessário destinar uma parte para vagas aos carros, é preciso cobrar a tarifa de acordo com a oferta e demanda, sem subsidiar o uso privado de um espaço público. Por fim, usar os recursos provenientes para incentivar outros meios de transporte que não o automóvel, como a mobilidade ativa e o coletivo. As fotos abaixo, de Gabriel Melhado, ilustram algumas dessas oportunidades. Que sirvam de inspiração.

Fotos de Gabriel Melhado
Fotos Gabriel Melhado

João Melhado
Economista pelo Insper e Mestre em Administração Pública com foco em política urbana e tecnologia pela Universidade Columbia (Nova York). Atualmente, é Diretor de Pesquisa e Políticas Públicas da Endeavor no Chile. Até 2017, foi coordenador de advocacy no escritório brasileiro da organização. Os estudos liderados por ele foram matéria nos principais veículos de mídia no Brasil, como Jornal Nacional (Globo), revistas Veja, Exame e Época, e jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Também influenciaram mudanças concretas em políticas públicas no país, como o Projeto Simplificar, que diminuiu o tempo necessário para abrir empresas em Porto Alegre. Como analista sênior da São Paulo Parcerias, ajudou a estruturar projetos de Parcerias Público-Privada na capital paulista. Entre eles, a Concessão do Mercado Municipal de Santo Amaro, primeiro projeto assinado na gestão 2017-20.