Imagine o seguinte experimento desolador: cortamos todas as árvores do Parque Ibirapuera, aterramos seus lagos, demolimos as obras de Niemeyer, mandamos pra longe todas as pessoas – dos turistas aos esportistas aos vendedores de água de coco; com a terra arrasada, cobrimos tudo de asfalto e dividimos o espaço em pequenas áreas de 5 x 2,2 metros; em cada um desses espaços, deixamos estocado uma tonelada de aço; repetimos o processo três vezes.
Chocante, não? Pois é o que fazemos com cerca de cinco milhões de metros quadrados do nosso espaço urbano, área das ruas de São Paulo, equivalente a três Parques Ibirapuera, que destinamos para o estacionamento público. Ao invés de um uso coletivo e verde, deixamos carros parados. Vale para a capital paulista, vale para todas as cidades brasileiras, que repetem a fórmula em sua medida.
Mostro isso no recém-lançado A Cidade Estacionada, um estudo sobre a gestão do meio-fio e o estacionamento rotativo pago (também conhecido com Zona Azul em São Paulo). As consequências desse mal-uso do espaço público são mais trânsito, poluição, riscos de acidentes e desigualdade, entre outros.
Para reverter esse quadro, as Prefeituras precisam estudar profundamente o estacionamento público local, mapeando quantas vagas estão disponíveis e quais os melhores usos. Caso seja necessário destinar uma parte para vagas aos carros, é preciso cobrar a tarifa de acordo com a oferta e demanda, sem subsidiar o uso privado de um espaço público. Por fim, usar os recursos provenientes para incentivar outros meios de transporte que não o automóvel, como a mobilidade ativa e o coletivo. As fotos abaixo, de Gabriel Melhado, ilustram algumas dessas oportunidades. Que sirvam de inspiração.